Em mais uma segunda feira qualquer, eu me dou conta de que estou prestes
a completar 3 meses aqui, ou seja, cheguei na metade do caminho já, daqui para
a frente é "contagem regressiva".
Diante disso surge de repente em mim um aperto
no coração ("Poxa, mas já? Já está acabando?"), e ao mesmo tempo
surge um alívio extretamamente confortante (Ahhh. Que bom que já está
acabando!).
É uma sensação muito confusa! Um desejo mútuo e contraditório de que o
tempo passe rápido, mas também passe devagar.
Mas a verdade é que o tempo passa
na mesma velocidade sempre, ele não espera por ninguém (ah, se esperasse...), o
que muda é a nossa postura diante dele, e o que fazemos com ele. Muda o que
sentimos durante o trajeto e como percebemos a passagem do tempo!
E durante esses 3 meses posso dizer que eu senti literalmente o tempo
voar, e ao mesmo tempo percebi o quanto foi e tem sido intensa essa experiência
de morar aqui. Olho para trás e não consigo acreditar que tudo que já vivi
coube dentro de 3 meses.
Muita coisa aconteceu, aprendi muito, cresci como
pessoa, fiz amizades com pessoas totalmente diferentes de mim (em todos os
aspectos), conheci outras culturas de perto, pude ter, de fato, experiências
enriquecedoras.
Aprendi um pouquinho de inglês (apesar de não ter sido nem 5%
do que eu quero ainda, e de não estar sendo "fácil" como eu imaginava
que seria), sair da homestay e fui morar "sozinha" pela primeira vez
na vida, (na verdade, dividindo apartamento com mais 4 pessoas), tive que
começar a cozinhar todos os dias para não precisar comer fora de casa e fazer
render o dinheiro, tive que começar a fazer contas e pesquisar preços para que
a feira do mês coubesse no orçamento do mês, aprendi a economizar e a não
estragar comida, aprendi (ainda mais) o valor do dinheiro.
Enfim, posso afirmar
que morar em Vancouver temporariamente, apesar de todo o encantamento da
experiência, também me fez viver uma vida "real" que eu ainda não
tinha vivido no Brasil, morando com a minha família, na minha querida
"zona de conforto".
Estar aqui tem sido um desafio para mim, e
confesso uma coisa, nenhum um pouco fácil, muito pelo contrário.
Na verdade é que antes de eu chegar aqui, e até durante as primeiras
semanas depois que eu tinha chegado, eu achava que tudo seria fácil.
Saudade? Tô acostumada a sentir, desde que me entendo por gente que
convivo muito bem com ela e até hoje sobrevivi.
Distância? Nem se fala... Tenho um coração dividido ao meio pela
distância geográfica, um fica lá no Norte, e outro no Nordeste do Brasil (já
que minha família quase toda mora em Manaus, e eu em João Pessoa).
Solidão? Que nada... Sempre gostei de ficar sozinha e isso me fez mais
forte e ao mesmo tempo pude me conhecer melhor. E depois quem tem a JESUS
CRISTO como companheiro e consolador nunca se sente só.
Ansiedade? Ah, essa é uma danada que nunca me abandonou e não seria em
Vancouver que ela ia fazer isso, mas creio que não será um grande problema.
A verdade é que eu me enganei em todas as expectativas acima!
Logo que cheguei aqui, a primeira sensação é de deslumbramento e
encantamento! E o primeiro desejo é o de "nunca mais ir embora"!”.
Sem exageros, esse pensamento veio à minha mente inúmeras vezes afim de me
conquistar. Vontade de largar tudo, chamar meu namorado para vim morar aqui, construir uma vida aqui, e nunca mais voltar para o Brasil, só de férias.
Isso aconteceu (e acontece com praticamente 100% das pessoas que vêm para cá) porque Vancouver é uma cidade que realmente nos seduz de cara, de maneira
avassaladora, é amor à primeira vista.
Ahhhh, e que vista!
Árvores coloridas no outono, mar azul, jardins que parecem terem sido
esculpidos à mão, montanhas belíssimas ao fundo, ruas largas e gostosas de
andar, andar e andar sem destino, pessoas educadas, inúmeras e infinitas opções
de lazer, a qualidade de vida, a tecnologia e o desenvolvimento de uma grande
metrópole combinadas com a vida pacata e tranquila de uma cidade pequena.
Como se já não bastasse, a cidade ainda possui uma
comunhão perfeita da natureza com um urbanismo de extremo bom gosto. A
segurança em andar nas ruas, em qualquer horário, salvo raras exceções.
Você se
sente no "lugar perfeito", na cidade "perfeita", com a
possibilidade de ter uma vida "perfeita". Aí depois de um tempo você
descobre a ILUSÃO... E é quando o intercâmbio começa a deixar de ser uma
experiência "mágica" para se tornar uma experiência mais real.
Depois de certo tempo, finalmente chegamos à fase de ADAPTAÇÃO, você
começa a se acostumar mais com as coisas, a reconhecer os lugares, começa a se
sentir à vontade com as novidades e com as coisas e situações que, até então,
você se surpreendia.
Nas primeiras semanas eu sentia como se tivesse em mundo paralelo, em
outra dimensão, mas quando tudo começa a acontecer e as coisas a se encaixar e a "entrar nos eixos", chega a ROTINA!
Aí você deixa um pouco de lado a
euforia e se acostuma com a ideia de que essa é a SUA VIDA agora. E é nessa
hora que as "vendas dos olhos" caem e você passa a enxergar também (no meio de tanta beleza) os pontos
negativos da cidade!
Você percebe que, na verdade, Vancouver não é um lugar
perfeito, e que aqui também tem seus problemas! Você se dá conta que mesmo na
cidade que foi eleita inúmeras vezes "o melhor lugar do mundo para
viver" existem problemas sérios e de difícil solução.
Na verdade, pelo
visto, qualquer lugar do mundo tem!
Após a retirada das escamas dos olhos,
aliado à adaptação natural que só vem com o tempo, tudo começa a ficar mais
difícil, sim, mais difícil.
Porque não existe mais “encantamento” nem nada que
te distraia quase que totalmente de parte da sua VIDA que ficou no Brasil (comigo foi assim, com outras pessoas pode ser que não).
E o que começa a acontecer então? Vamos às etapas.
Chega uma hora em que a saudade, mais que do Brasil (mas de um lugar
realmente "seu") começa a surgir.
Por mais que seja gostoso viver
aqui, não tem como se sentir totalmente em casa, totalmente segura, sempre
estará faltando alguma coisa! (Pelo menos para mim foi assim, foi isso que comecei a sentir).
E quando eu falo em segurança, não estou falando
de assalto, roubo, sequestro, etc. Tô falando de você se sentir em casa. Porque
a verdade é que por mais que as pessoas aqui sejam educadas e solicitas, você
sempre vai ser um “estrangeiro”, e se a coisa apertar, na "hora H", não vai ser você (o
“estrangeiro”) que terá VEZ e VOZ. Você sempre estará em desvantagem.
Não estou reclamando de nada, a receptividade
com estrangeiros aqui é maravilhosa, não poderia ser melhor, Vancouver é uma
cidade onde existe de tudo, o MUNDO inteiro está aqui, transitando pelas ruas, e as pessoas são
acostumadas a conviver com pessoas de todos os lugares do mundo!
Mas mesmo
assim, não tem como se sentir totalmente confortável, acho que não sei explicar isso direito, então, resumindo tudo isso em uma única frase: NADA como estar no SEU país! Não tem coisa melhor. E realmente nós só sentimos isso quando saímos para morar em outro lugar fora
do Brasil! Tem que viver a experiência para poder entender, não tem jeito! (Eu até acredito que se eu ficasse mais tempo morando aqui, até me acostumaria com isso, mas, pelo menos hoje, ainda sinto esse desconforto sem explicação nem razão específica).
Depois da saudade se instalar de vez, a solidão também bate na porta, pois por mais que você tenha feito 500
amigos, (e que, no meu caso, você more com a sua melhor amiga aqui) suas raízes
não estão aqui, seus amigos da vida inteira e as pessoas que te conhecem
realmente e em quem você confia quase que de olhos fechados estão longe de
você.
Sua família, pessoas que você sabe que fariam qualquer coisa por você,
até morreriam por você se necessário fosse, seu namorado, todo mundo que faz
parte de você e da sua história estão a centenas de quilômetros de distância de
você!
E não, não é fácil conviver com isso numa boa o tempo inteiro. Chega uma
hora que a bomba explode e bate um desespero enlouquecedor. Você fica triste e
não sabe dizer o motivo, você chora sem saber a razão, mas tudo isso tem nome,
solidão, simplesmente solidão, solidão com uma boa dose de carência.
E por último, a ansiedade. Isso é algo que pelo que eu pude perceber, também
acompanha todo mundo que está fazendo intercâmbio pela primeira vez.
No começo, antes de chegar ao país, é a ansiedade em não saber como
será, se vamos nos adaptar, se vamos conseguir nos comunicar, entender o que as
pessoas dizem, e se as coisas vão sair como foram planejadas.
Depois que
chegamos, é a ansiedade em aprender, fazer valer a pena o dinheiro investido, e (especificamente no meu caso) a decepção em perceber que não é tão simples assim e que nada acontece do dia
para a noite, aí depois surge a ansiedade em fazer novas amizades logo (algo
que acontece quase que constantemente, da maneira mais natural possível).
A vem a ansiedade em conhecer todos os lugares, em abraçar o mundo, e então surge a
ansiedade do que fazer quando não se tem muita coisa mais a fazer, e de repente você fica
com vontade de voltar logo pro Brasil, é realmente uma loucura!
Mas é uma
loucura gostosa, na verdade um DESAFIO!
Você aprende a se enxergar melhor e a
controlar seus impulsos, simplesmente porque você não tem outra escolha a
fazer.
Viver essa experiência é realmente uma mistura de sensações boas e
ruins, porém intensas, todas!
Tudo aqui é muito intenso. Se eu acordo triste, acordo
MUITO triste, choro, quero me isolar, não gosto de sorrir para ninguém.
Se
acordo feliz, acordo gargalhando, fazendo mil planos e querendo aproveitar o
novo dia ao máximo! E o mesmo motivo que me faz acordar triste em um dia (estar
aqui), é o que me faz acordar sentindo a maior felicidade do mundo no outro dia
(estar aqui).
Achei que era só comigo que isso acontecia, e pensava (Será que sou normal? Haha). Mas eu percebo que todas as amigas que fiz aqui acontece o mesmo!
Tem hora que dá vontade
de chutar o balde, e quem não se controla realmente acaba chutando mesmo,
(antecipando a volta para o Brasil).
Outros já vem pra cá e nunca mais querem
voltar, o tempo passa, os dias passam, as semanas e os meses, e essas pessoas
continuam querendo ficar aqui para sempre, nem mesmo consideram a possibilidade
de voltar.
A vida é isso. Pessoas diferentes, cabeças diferentes, e prioridades
diferentes. Eu até ficaria aqui para sempre, mas não sozinha, acho que não
aguentaria...
Então, fora as adversidades e problemas, a experiência é imensamente prazerosa
e satisfatória, como já havia dito na postagem “1 mês em Vancouver”, estar aqui
é sem dúvida algo infinitamente enriquecedor, uma experiência única e que te
faz aprender MUITA COISA, e o inglês é apenas uma delas.
Estou na metade do
caminho já e creio que a outra metade será ainda mais desafiadora.
Está cada
dia mais fácil (do ponto de vista da adaptação) e ao mesmo tempo difícil (do
ponto de vista da saudade e da solidão), mas com um jogo de cintura dá para
chegar ao destino final com um belo sorriso no rosto.
Até porque Deus tem
cuidado de mim aqui como um verdadeiro PAI. Colocou pessoas maravilhosas para cruzar o meu
caminho, pessoas essas que tem me dado todo o apoio necessário e até muito mais do
que eu precisaria! Realmente posso dizer que aqui “fiz amigos mais chegados que
irmãos”.
E é isso aí, enquanto isso vou vivendo um dia de cada vez, aproveitando os
minutos por aqui, que evaporam no espaço e no tempo em um piscar de olhos,
chorando quando dá vontade, sorrindo quando convém, sendo forte na tempestade,
e perseverante nas tribulações, valorizando os bons momentos e procurando tirar o melhor de cada situação, porque é assim que a vida sempre me ensinou a
ser (sem opção de escolha) e aqui não tem sido diferente!