domingo, 31 de julho de 2011



“O senhor sabe: o perigo que é viver…” 
Viver é um descuido prosseguido...


Viver é muito perigoso; e não é não. 
Nem sei explicar estas coisas. 


Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor. 


Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. 


Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. 


Deus é que me sabe."






Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cala-te

Ah, se eu pudesse
Ah, se eu soubesse
Que a sabedoria vem de escutar
O arrependimento, de falar

O que hoje é razão
Ontem foi impulso
Martelando o coração
Do sentimento avulso

Presa ao desconhecimento
Peço, baixinho, ao mar
Fiquei submersa ao tormento
Me ajuda a recomeçar?

O que ele me diria?
Com bravura e muita ira
Será que responderia?
De outra forma não poderia

Disse, então: cala-te
Sem palavras prolongadas
Não atormentes mais
A paz de anjos e fadas


quarta-feira, 27 de julho de 2011

A mídia e o terrorismo de cada dia

Os jornais brasileiros destacam, na cobertura do atentado terrorista na Noruega, trechos do manifesto publicado pelo extremista Anders Behring Breivik sobre o que considera a ameaça da imigração na Europa, no qual condena a miscigenação racial no Brasil.
O texto, um apanhado de citações copiadas da internet, com 1500 páginas recheadas de referências contra o islamismo, aponta o Brasil como exemplo negativo de país em que, segundo ele, a “mistura de raças” produz “altos níveis de corrupção, falta de produtividade e um conflito eterno entre várias culturas competitivas”. O terrorista critica ainda a existência de mulatos, que chama de “sub-tribos”.
Raciocínio torto
A coleção de sandices na mente de um aloprado de extrema direita capaz das atrocidades que Brivik cometeu não chega a surpreeender. O que causa certa estranheza e apreensão é a constatação de que muitas de suas convicções frequentam o ambiente midiático, sob outras formas, como se fossem afirmações aceitáveis.
Não são raros os articulistas e até mesmo editorialistas que acreditam em teses de supremacia racial. Tais autores representam a persistência, em determinadas camadas da nossa sociedade, de crenças sobre supostas vantagens das comunidades homogêneas.
Na mídia do sul do Brasil proliferam apresentadores de rádio e televisão, colunistas e outros jornalistas que costumam debitar as históricas carências nacionais ao que consideram como o “peso” do Nordeste. Mesmo com os altos índices de desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste, registrados nos últimos anos, o mote preconceituoso ainda acompanha, explicitamente ou de maneira velada, comentários sobre corrupção, violência e deficiência educacional.
Com a conivência da imprensa – que continua cedendo espaço ao que há de mais conservador por aí – a reiteração de raciocínios tortos contribui para desvalorizar a diversidade cultural e racial e estimular o preconceito.
Ato de rotina
Um ato terrorista como o que atingiu a Noruega sempre produz reações de choque, mas o noticiário e o opiniário do dia a dia dissimulam o fato de que a intolerância amadurece até o ponto da explosão por meio da repetição de conceitos anti-humanitários através da mídia.
A ojeriza contra todo tipo de utopia, característica do pensamento que predomina na imprensa brasileira, é uma das raízes do individualismo e da negação dos direitos do outro.
É um ato terrorista que se pratica na rotina, contra toda espécie de sonho coletivo.
Observatório da Imprensa na TV
[Com Tatiane Klein]
Nas últimas semanas, dois casos envolvendo liberdade de imprensa povoaram o noticiário. De um lado, o caso do império midiático de Rupert Murdoch, abalado por um escândalo que não para de ter desdobramentos. Do outro, o caso do processo movido pelo presidente do Equador, Rafael Correa, contra o jornal El Universo, gerando indignação no país.
No primeiro caso, a sanha sem limites de Murdoch e suas empresas de mídia moveu manobras políticas, corrupção policial, prisões e até morte – sem falar de desvios de ética jornalística alimentados pelas escutas telefônicas.
No segundo caso, o presidente do Equador calou quatro jornalistas de El Universo por chamarem-no de ditador. O juiz Juan Paredes condenou a três anos de prisão os diretores do jornal e seu ex-editor de Opinião, que deverão pagar uma indenização de 40 milhões de dólares ao presidente.
Entre interesses mercadológicos e interesses governamentais, quem sai ferida é a liberdade de imprensa. Como equilibrar interesses de forma a não permitir excessos no mercado de mídia e ao mesmo tempo garantir a liberdade de opinião quando a imprensa se torna uma arena política? Pode existir uma terceira via de controle sobre os usos e abusos da imprensa, garantindo que nenhum direito fundamental seja desrespeitado?
Por Luciano Martins Costa em 26/07/2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Não entendo!

Observando aqui e ali, eu percebo uma coisa: por tudo quanto é lado, as pessoas comentam: "O mundo perdeu um grande talento, uma das maiores cantoras de sua geração, uma jovem que viveu intensamente"

Ok. Tudo bem, talento mesmo não lhe faltava... mas, tem algo que me incomoda bastante nessa história. Na verdade, me deixa confusa. 
A bendita expressão "viveu intensamente". 
Por quê? 
Não entendo, não consigo! 

O que é, afinal, "viver intensamente"
V-I-V-E-R intensamente! 
Essa expressão tão comum e até mesmo, clichê!
As respostas podem ser bem variadas, é verdade! "Viver intensamente" pode significar coisas diferentes para cada pessoa. 
E aqui eu vou dizer o que eu acho sobre a vida que levou Amy Winehouse. 
É apenas a minha singela opinião. 


Não! Ela NÃO viveu intensamente! Na verdade, para mim, acho que ela nem chegou a viver, INFELIZMENTE, (não deu tempo). 
Não acredito que "viver intensamente" seja viver injetando substâncias estimulantes em si mesmo, substâncias essas que cessam o seu domínio próprio e provocam emagrecimento profundo, insônia, sangramento do nariz e corisa persistente, lesão da mucosa nasal e tecidos nasais, palidez, suor, frio, desmaios, convulsões e até mesmo parada respiratória. (Estes são apenas alguns dos inúmeros efeitos maléficos da cocaína no organismo). 

Não acredito que "viver intensamente" seja viver sob efeito de drogas que causam turvação mental, náuseas, vômitos, euforia, doenças infecciosas como hepatite B e C, além da AIDS, colapso venoso, infecções bacterianas e das válvulas do coração, artrites e outros problemas reumatológicos. (Alguns dos efeitos da heroína no organismo). 

E também não acredito que "viver intensamente" seja viver como escravo de uma pedra do tamanho de uma moeda, que causa: hipertensão, problemas cardíacos, derrame, acidente vascular cerebral, enfisema, tuberculose, aumento da pressão arterial, degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, psicoses, paranoia, alucinações e delírios, além de lesões no cérebro, causando perda de função de neurônios, (alguns dos efeitos do crack no organismo). 


Essas são algumas das drogas que a cantora usava. E uma consequência comum entre TODAS elas, é que elas MATAM! Matam lentamente, ou às vezes até rápido!

Então, diante desses fatores todos, não consigo imaginar Amy "vivendo intensamente", não consigo imaginar, ao menos, ela "vivendo". Afinal, se ela era mesmo viciada em todas estas drogas, nas drogas mais destruidoras que existem, a cocaína, a heroína, e o maldito crack, (entre outras), além é claro, do álcool. Como podemos dizer que ela foi uma pessoa que "viveu intensamente"? 


É isso que as pessoas chamam de "Vida"? E mais, de "Vida Intensa"? 
É esse tipo de vida que o mundo inteiro e todas as pessoas que estão lamentando a morte de Amy chamam de "intensa"? 
ISSO é "viver intensamente"?
Não! Eu não penso assim...

Amy Winehouse era mesmo, de fato, um grande talento, uma grande cantora, compositora, dona de uma grande voz, e é extremamente lamentável que tenha morrido tão jovem, com apenas 2 álbuns lançados. Sua carreira foi curta, apesar de promissora, seu segundo álgum, (back to black), como vem sendo noticiado, vendeu 10 milhões de cópias no mundo todo em 2006, além de ter recebido 6 indicações ao Gramy, das quais levou 5! Isso é mesmo um fato que denuncia quanto talento ela tinha! 


Mas me pertuba muito alguns conceitos, como "genialidade". Muitos estão, hoje, se referindo a Amy como uma "genialidade perdida". 
Também não penso assim. Vou explicar o porquê.

Não considero uma "genialidade", nem alguém que "viveu intensamente", uma pessoa que levava a vida que Amy levava, (mesmo apesar de todo o talento), alguém que vivia sob todos esses efeitos colaterais já mencionados, que vivia lutando para se livrar do vício de inúmeras drogas, que gastou boa parte dos milhões de dólares que ganhou com traficantes e que utilizava a música como válvula de escape, praticamente desabafa pedidos de socorro quando compunha suas canções, alguém assim, não pode ser considerado um "gênio", ou "gênia". 


NÃO! Não estou querendo adotar aqui nenhum discurso "polêmico", nem mesmo, moralista, mas sim, estou querendo atentar para os fatos e para os fins. Afinal, o adjetivo "genial", partindo do princípio de que atentamos para o seu significado, caracteriza algo que merece ser copiado, algo que merece admiração e ser tomado como exemplo! Não é? Afinal, é "genial". 


E, definitivamente, a vida de Amy não é não deve ser exemplo para NINGUÉM! Aliás, deve ser sim, exemplo do que NÃO DEVEMOS fazer se queremos, AÍ SIM, "viver intensamente"
A verdade é que me preocupa a maneira como muitas pessoas se referem à cantora, pois eu tenho medo, medo pelos jovens, medo pelas vidas. 


Uma criança/adolescente de 13, 14, 15 anos, que está começando a formar  sua personalidade, que está começando a moldar a maneira como vai encarar a vida quando for adulta, que está começando a adquirir responsabilidade para fazer as suas próprias escolhas, que, ao olhar para a imagem da cantora Amy Winehouse pensa em "genialidade" e "viver intensamente", (pois é isso que ela escuta todo mundo dizer), vai pensar o que da vida afinal? 
Que "a vida é isso aí"
Que vivendo assim, como Amy, ela será "genial" e "viverá intensamente"?
Definitivamente, não! Não é assim... Não DEVE ser assim!

Amy não viveu, SOBREVIVEU, sua vida, por trás dos holofotes e da gorda canta bancária, foi uma vida de SOFRIMENTO! De DOR, DE DESESPERO! 
ESSA É A VERDADE! Por trás de todo aquele visual exótico, do jeito peculiar, das atitudes, muitas vezes, agressivas, da personalidade forte, tinha uma pessoa extremamente frágil, triste e desesperada para viver DE VERDADE, para "VIVER INTENSAMENTE" realmente, tinha uma pessoa buscando uma saída, uma porta que NUNCA encontrava. E não encontrava porque as drogas que ela usava, fechavam todas, fechavam e não abriam mais. E assim, ela SOBREVIVIA... até o dia 23 de julho de 2011. Infelizmente... 

A minha sugestão é que as pessoas, os jornais, a imprensa e quem mais está falando sobre o assunto, mudem a frase:

"O mundo perdeu um grande talento, uma das maiores cantoras de sua geração, uma jovem que viveu intensamente!" 


Para: "O mundo perdeu um grande talento, uma das maiores cantoras de sua geração, uma jovem que MORREU LENTAMENTE!"

Aí sim, eu vou entender!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Deixando o coração gritar

De repente, ela para, olha para os lados, inspira, expira, olha para frente, e percebe que nada mudou, e que tudo mudou, que o tempo passou, e que o tempo parou, que está quase terminando, e que também está apenas começando!


Vontade de ir devagar para não errar, mas também vontade de correr, para não chegar atrasada. Tantas coisas para jogar fora, tantas coisas para reorganizar. Por onde começar? 


Como definir quais coisas tem prioridade? 
É necessário muito esforço para escolher certo? 
Muita responsabilidade? 
Muita experiência? 


E quando estas ditas "coisas", na verdade, não são, necessariamente, "coisas"?
É difícil mensurar o imensurável, tampouco ser forte quando tudo o que você mais quer, é ser "normal".


Como diria o poeta, "Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois".
O jeito é ir levando, levando, indo em frente, tocando a boiada, deixando o coração gritar!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

    "Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
    De adormecer.
    Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
    Nem desejo de os ter.
    E um choro por meu ser me inunda
    A imaginação.
    Saudade vaga, anônima, profunda,
    Náusea da indecisão.
    Frio do Inverno duro, não te tira
    Agasalho ou amor.
    Dentro em meus ossos teu tremor delira.
    Cessa, seja eu quem for!"
    Fernando Pessoa

terça-feira, 5 de julho de 2011



‎"A Maconha é a chave, a Cocaína é o caixão e o CRACK é a tampa!" 



Rennan Frezzati

domingo, 3 de julho de 2011

O poder, as mulheres e a mídia

No dia 13 de junho passado, ao começar a entrevista com a ex-candidata à presidência da República Marina Silva (PV) no programa Roda Viva (TV Cultura), a apresentadora Marília Gabriela questionou a existência de um comportamento preconceituoso por parte da mídia quanto à inédita participação de mulheres no atual governo federal, tendo como expoente maior a própria presidenta da República, Dilma Rousseff. Do alto de uma sobriedade impressionante para uma candidatada derrotada no pleito presidencial, Marina alegou estar no ineditismo à falta de habilidade da imprensa em lidar e noticiar a nova realidade da política brasileira.
Mas o que não foi respondido pela ex-senadora – a existência ou não de preconceito no comportamento da mídia – vai se evidenciando no teor do conteúdo da agenda da mídia por parte de uma parcela significativa dos meios de comunicação. Este preconceito se concretizou com as recentes mudanças feitas na equipe de governo. A saída do ministro Pallocci e troca de cadeiras entre os ministros das Relações Institucionais e da Pesca foram o ponto de partida para conteúdos onde gênero é usado a partir do viés do preconceito.
A escolha da senadora Gleise Hoffmann para Casa Civil e da também ex-senadora Ideli Salvati para o Ministério das Relações Institucionais abriu espaço para o tom jocoso por parte da imprensa quanto à participação das mulheres no governo federal, que segue em descompasso tanto com a trajetória política das escolhidas da presidenta, quanto com a trajetória de avanços e conquistas obtidos pelas mulheres ao longo de um século. Em sua maior parte noticiado, e muitas vezes festejado, pela própria imprensa. A “República do salto alto, da saia justa”, entre outros, são alguns dos estereótipos escolhidos pela mídia para “qualificar” o governo federal.
O sopro machista
Mas mais do que tentar desqualificar, previamente, as mulheres que exercem os três cargos mais altos da República, a imprensa brasileira dá sinais de sua falta de preparo em lidar, por conveniência, com as mudanças vividas pelo mundo em um século de avanços feministas. Ou, o que é pior, de não saber se ajustar a uma nova realidade, ao se valer de machismo em uma tentativa rasa de fazer graça. Não que o humor não se apropriará deste momento e o fará da melhor forma possível, tirando boas gargalhadas de todos, inclusive de mim. Contudo, trata-se aqui do papel de quem deve informar, e não fazer humor. Ao tentar inverter papéis com o humor, a grande mídia deixa claro que se valerá, sempre que lhe for conveniente, de artifícios machistas para desacreditar o governo. Não se importando em retroceder um século, ao tempo em que as mulheres que lutavam por seus direitos eram tidas como loucas, duronas, briguentas, destemperadas... E tantos outros predicados tão em voga nas últimas semanas!
O novo sempre impõe, primeiramente, estranhamento e, em seguida, a adaptação. Entretanto, o cenário atual da agenda da mídia que se utiliza negativamente do gênero em sua pauta seja para criticar, analisar ou noticiar ações do governo federal, não tem nada de inédito, considerando as experiências durante o governo de Luiza Erundina à frente da prefeitura de São Paulo (1988-1992) e de Marta Suplicy, também à frente da prefeitura da maior cidade brasileira (2001-2002) e sede dos maiores veículos de comunicação do país, deixando sinais claros de onde vem o sopro machista que ecoa na mídia brasileira.
Por Renata Noiar em 27/06/2011

sábado, 2 de julho de 2011

Roda Viva



Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu 
A gente estancou de repente 
Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva 
E carrega o destino prá lá 

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva 
E carrega a roseira prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante 
Nas voltas do meu coração

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata 
A roda de samba acabou

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva 
E carrega a viola prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante 
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira 
Que a brisa primeira levou

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá 

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante 
Nas voltas do meu coração

Roda Viva - Chico Buarque


Se hoje, na minha vida, estivesse tocando uma trilha sonora, seria essa...
Aí eu me pergunto, mas a gente estancou de repente, ou foi o mundo estão que cresceu?