sábado, 20 de agosto de 2011

O caderno inútil

Essa semana, folheando um certo caderno que eu encontrei aqui, eu percebi uma coisa intrigante, de tanto usar a borracha para apagar o que foi escrito de maneira errada, para apagar os erros, suas páginas ficaram manchadas, com rabiscos e falhas em todas as partes, em algumas partes as páginas até se rasgaram. 


Eu até que me aventurei a tentar usar uma borracha nova, mas nada adiantou, bastou eu tentar apagar novamente que o que já estava rabiscado, se tornou uma mancha escura enorme, difícil de sair. 


Então, olhei para aquelas páginas, e fiquei profundamente triste. Na verdade, lamentei pelo estrago, porque a história que estava escrita nelas era tão bonita, em algumas linhas, ainda dava para ler algumas coisas, com muito esforço, mas dava, e então eu relembrei momentos muito bons, e até me emocionei, confesso. Porém, todas aquelas manchas, rabiscos e partes rasgadas interrompiam de forma violenta a minha leitura, o que me obrigava a fechar o caderno e desistir. 


A verdade é que aquele caderno já havia se tornado inútil há muito tempo, afinal, para que serve um caderno onde não existe mais espaço para escrever? E onde nem mesmo é possível ler a história que ele conta, por causa do uso exagerado da borracha. 


Sendo assim, já que ele não servia mesmo para nada, eu resolvi guardá-lo, pensei até em jogar fora, para que ele não ocupasse espaço no meio dos outros, (eu não ia mais usá-lo mesmo), mas aí não foi possível, eu era muito apegada àquela história, os personagens eram muito especiais para mim, para que eu conseguisse simplesmente jogar tudo no lixo. 


Diante disto, a alternativa que encontrei foi guardá-lo mesmo, era o melhor a se fazer, só que ainda assim o problema do espaço continuou, eu não queria que algo que já havia se tornado inútil, que já estava coberto de poeira, ocupasse espaço demais (visto que ele era bem grande, pois a história era longa), eu não queria porque não via sentido nenhum nisso, não havia necessidade.


Então eu não o guardei em um lugar qualquer, andei muito, sem destino, e quando cheguei o mais longe possível, o mais longe que conseguir ir, procurei um armário, e então, abri a última gaveta, da última porta, e lá atrás, encostado em um canto, o deixei.


Passe o tempo que passar, quero ele lá, guardado sim, (pois a história que ele conta representa uma importante e marcante lembrança), mas ao mesmo tempo, em um lugar de difícil acesso, para que, nem que algum dia eu queira, eu consiga pegá-lo novamente.


E aí, sem pensar duas vezes, eu fechei as portas do armário, com suas respectivas chaves, e fui embora.


Ah! Onde estão as chaves agora?

Não sei, perdi no caminho de volta!



"A vida se tornaria impossível se a gente a relembrasse inteira. Tudo está em escolher aquilo que devemos esquecer
(Maurice Martin du Gard)

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