segunda-feira, 2 de maio de 2011

O luto "ao contrário"

E depois de anos, ele finalmente foi capturado, encontraram (e mataram) o homem mais procurado do planeta por quase uma década, o maior terrorista da história, o homem que valia 25 milhões de dólares, valor da recompensa oferecida pelo governo americano em troca de informações sobre ele. E o que mais me impressiona é ver as imagens dos americanos comemorando felizes no meio da rua, buzinando ao dirigir os carros, gritando e balançando bandeiras com a mesma alegria que vimos, horas antes, no Brasil, os torcedores do Flamengo comemorarem a vitória de seu time e a conquista da Taça Rio! Comparação tola, eu sei. Mas é exatamente isso que aconteceu!  As pessoas estão explodindo em alegria, os americanos estão eufóricos com a morte de Osama Bin Laden e enxergando esse fato histórico como uma grande conquista, como uma "vitória muito importante", palavras do próprio prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, ele ainda disse que deseja que "a notícia traga um pouco de alento para quem perdeu seus entes queridos nos ataques do dia 11 de setembro de 2001". 
"Enquanto Obama fazia seu pronunciamento em rede nacional, centenas de americanos comemoravam em frente à Casa Branca, na noite deste domingo [horário local]. Gritando o nome dos Estados Unidos, alguns manifestantes exibiam bandeiras americanas num ato espontâneo diante da sede da presidência para comemorar a morte do chefe da Al Qaeda. "Nunca senti tamanha emoção", declarou John Kelley, estudante de 19 anos. "É algo que nós esperávamos há muito tempo"..."
Estava lendo isso e vendo as imagens quando parei por um instante para me perguntar: Como será comemorar a morte de alguém? Por mais, ou melhor, por menos simpatia que você tenha por esse alguém, ou vamos mais longe chegando na realidade, por mais que esse alguém seja o maior responsável pela morte de centenas de milhares de cidadãos de seu país, mais longe ainda, por mais que esse alguém seja o responsável pela morte de pessoas que você conhecia, que você gostava, amava, ou pessoas da sua família. Como será, desejar, por quase uma década, a morte de uma pessoa? Como será definir a morte dessa pessoa como "a maior emoção da sua vida"? Não estou aqui para falar de "certo" ou "errado" ou do que é ou não conveniente fazer diante de circunstâncias específicas, estou apenas me questionando, até porque eu também não sei se estaria fazendo o mesmo se estivesse no lugar de uma daquelas pessoas. Sinceramente, não sei, (acho que não, se alegrar com a morte de um homem? Como assim?). Mas só estou aqui para dizer o quanto eu achei "curioso" isso. 
E outra dúvida: Será mesmo que a morte do terrorista Osama Bin Laden trará conforto, ou, como disse o prefeito de York, trará "alento" para as famílias que perderam entes queridos no macabro e inesquecível 11 de setembro? Será? Talvez, para algumas, sim. Depende muito de como as pessoas encaram os acontecimentos e de como lidam com suas dores, alguns podem chamar isso de justiça (como fez Obama em seu discurso, que o mundo inteiro parou para ouvir), podem escolher acreditar que ela - a justiça - foi feita, e assim, se sentirem mais "aliviados", outros, porém, podem com o passar dos dias, perceber que, na verdade, nada mudou, que o espaço vazio deixado por quem se foi para sempre, continua lá, o que é mais provável que aconteça, eu acho (apenas acho, afinal, é só isso que posso fazer). Falando em justiça, será mesmo que justiça é matar sem pensar duas vezes? Não teria sido mais coerente levá-lo ao Tribunal Internacional? Como fizeram, por exemplo, com Saddam Hussein? As leis mudaram e eu não soube agora? Assassinato de terrorista, ou de qualquer tipo de  criminoso, sem direito a julgamento, agora é "justiça"? São tantas indagações que me vem à cabeça, e não saber as respostas é um tanto quanto inquietante.
Bem, eu só sei que, a uma hora dessas, o presidente Barack Obama já deve estar visualizando sua futura reeleição, já deve estar "sentindo o cheirinho" dela, afinal, com toda a certeza, ela já está "quaaaase" nas suas mãos, falta só mais um pouquinho. Não é verdade? (Afinal, ninguém duvida da dimensão política que essa morte tem o poder de alcançar, e suas consequências, se o povo amereciano está tão feliz assim com a execução de Bin Laden, Obama só tem a ganhar com isso). Isso, claro, se nada acontecer até 2012, ano das próximas eleições americanas. Por quê? Minha última dúvida: Será que a Al Qaeda ficará "quietinha", em silêncio, assistindo o mundo inteiro comemorar a morte de seu grande líder? Deus queira que sim, que essa morte não seja nenhum ponto de partida para que o terrorismo islâmico tome ainda mais força, através de nenhuma retaliação, que pessoas inocentes parem de morrer. Entretanto, ninguém sabe o que acontecerá no mundo a partir de hoje, (pois quem morreu foi Osama, e não o terrorismo, nem o fundamentalismo islâmico, nem o fanatismo religioso que é capaz de fazer pessoas tirarem a própria vida em nome de um "deus"). Na dúvida, digo e repito: Pelo menos por enquanto, não quero viajar para os Estados Unidos, nem de graça, obrigado!

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